Editorial

Recentemente fui contatado por um autor que me interrogou sobre a preferência estilística do periódico. O JAR prefere layouts não-lineares? Se damos preferência às mídias que abrem automaticamente quando acessamos a página? Se preferimos o uso da primeira pessoa do singular na escrita? Minha resposta a essas perguntas foi a de sempre: "Não, não esperamos qualquer particularidade quanto `as escolhas formais. Por favor use o que melhor convier à articulação de sua prática enquanto pesquisa!" No entanto, mesmo que as afirmações se mantenham verdadeiras, também temos de considerar a situação histórica na qual estamos, a qual também modela as expectativas e crenças sobre o que seja o padrão de exigência. Mesmo sem ser intencional, se olharmos para trás, para os últimos dez anos das publicações do JAR, poderíamos ser perdoados se assumirmos que existe "um estilo da casa" em vigor, isto é, uma particular estética das apresentações que o JAR associou com a pesquisa artística.

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Em seu artigo recente, ‘Information Overload (Excesso de informação), Claire Bishop tece uma interessante perspectiva a essa questão. Nesse artigo, ela argumenta que as estruturas inerentes (em mudança) ao desenvolvimento das tecnologias da informação — sendo o surgimento da Internet o mais importante   — são tão fundamentais que qualquer coisa que associemos com pesquisa tem de ser expressa em relação às tecnologias de informação, seja em concordância ou em discordância. Embora a atenção de Bishop se centre nas estratégias de exposição das últimas décadas, exibindo o que ela cunha como o ‘gênero’ de arte baseada na pesquisa (research-based art), algumas reflexões do texto dela se aplicam igualmente ao JAR. Ela reflete como texto e discurso têm se tornado parte da exposição, não somente quanto a apresentação de arquivos ou de uma enormidade de materiais, mas também quanto suas distribuições no espaço. Da mesma forma que o cubo branco pode não sugerir ‘um eixo horizontal’ dominante ou ‘uma estrutura que agrega mais do que distila,’também o JAR — como uma outra especie de cubo branco — não propõe modos de apresentação, sejam lineares (verticais) ou não-lineares (horizontais). E ainda, enquanto a pesquisa é ativada, formas artísticas parecem convergir.  Por quê isto possa ser o caso?

Apesar da generalização de Bishop, seu foco parece ser relativo à expansão da pesquisa artística no Reino Unido, evidenciado por sua escolha e atenção ao ano de 1992, como o início da ‘primeira fase' da arte baseada na pesquisa. Foi, afinal, nesse ano que o Further and Higher Education Act do Reino Unido modificou muito substancialmente a paisagem acadêmica.  No entanto, será realmente verdade que ‘as mudanças na educação artística foram, sem dúvida,  consideravelmente mais decisivas e influentes do que qualquer um destes precursores [Bishop lista por exemplo Lewis Hine, Hans Richter, Mary Kelly e Hans Haacke, para citar apenas alguns] e que ‘embora a arte baseada na pesquisa seja um fenômeno global, seja inseparável do surgimento dos programas de doutoramento para artistas no ocidente, especificamente na Europa, nos anos ’90’? Estabelecendo conexões dessa forma, Bishop sugere uma relação causal entre formas institucionais de arte (educação)  e formas da prática artística contemporânea que, segundo ela, são problemáticas, argumentando na mesma linha dos bem conhecidos posicionamentos quanto a crítica institucional.

Essa interpretação histórica corre o risco de deturpar o que tem acontecido com a pesquisa artística na academia, onde criar a aparência ou a atmosfera da pesquisa’[ênfase no original], evitando 'tirar conclusões’, é uma opção menos frequente quando comparada aos circuitos da arte contemporânea de onde ela extrai seu argumento. O problema que ela identifica como pura agregação de dados, deve ser entendido principalmente como parte de nossa condição tecnológica na qual vivemos — com o surgimento do algoritmo de busca — e não como o resultado das atividades de pesquisa. Essa confusão entre tecnologia e pesquisa, entretanto, desemboca em ‘duas rubricas-chave para os novos estilos de literacia e de espectador[…] skimming e sampling’[ênfase no original] que ela identifica, a leitura dinâmica e a justaposição comparativa de modelos. Há uma sensação de que a 'aparência de pesquisa’ não é suficientemente valorizada como implicando conclusões, também quanto ao nível estético. No JAR, estamos especificamente  atentos como todos modos de literacia se interrelacionam e onde, como uma consequência, a conclusão se apoia. O skimming, pode, então, ter uma função própria na pesquisa — basta pensar nas temidas revisões literárias! — como uma condição prévia para identificar o local da sua própria contribuição. No entanto, não consigo enxergar como skimming por si só possa ser associado`a pesquisa, como Bishop sugere a propósito do trabalho Truth Study Center, de Wolfgang Tillmans. Sem querer interpretar o status epistêmico deste particular exemplo, há que ter um consenso de que a apropriação de ‘estilos' de pesquisa não é a coisa em si.

Ao mesmo tempo — e aí está o ponto muito válido de Bishop — precisamos reconhecer que se a pesquisa deva ser exercitada também do lado do público, um sentido de ‘excesso' e de indeterminação deva ser adquirido, para o qual ‘skimming’, ou leitura dinâmica, não seja uma resposta inadequada.  Entretanto, o ‘skimming’ deve chegar a algum lugar. Densidades afetivas, experienciais ou intelectuais devem emergir e as passagens entre essas esferas deveriam ter um valor epistêmico.  Apenas, então, poderão os encontros se tornarem do tipo ‘sampling’, de justaposição comparativa de modelos —os quais são os preferidos por Bishop e necessários para a pesquisa — como exemplificados pela referência ao trabalho do Forensic Architecture (o qual, aliás, é o único projeto acadêmico de pesquisa sério que ela analisa, tendo, por exemplo, recebido duas vezes apoio financeiro de um órgão prestigiado de fomento, o European Research Council, ERC). Em relação aos dois termos, ou modos operativos, skimming e sampling (a leitura dinâmica e a justaposição comparativa de modelos), eu argumentaria que a forma artística desempenha um papel chave nas apresentações da pesquisa, e que deveria ser avaliada em conformidade.

Ainda mais se assumirmos que sampling nos leva a resultados, a experiência de skimming muda. Em tais casos somos capazes de vermos padrões onde anteriormente não enxergávamos ou iniciarmos questionamentos em relação às coisas de maneira renovada, as quais julgávamos termos solucionado, em certos sentidos. A nível pessoal, das várias experiências em relação ao processo de ‘leitura' e de edição das exposições do JAR, aprecio, sobretudo, esse último estágio: partindo de uma panorâmica (zooming out) novamente das diferentes maneiras  de samplings (justaposição comparativa de modelos), tendo ainda seus gostos frescos, para a totalidade da apresentação; quando se pode temporariamente resguardar um padrão que de outra forma seria invisível,  mesmo diante de todos os ruídos. Na perspectiva de editor eu trabalharia em prol da melhoria da forma geral tomando o cuidado de não estragar o substrato do material que convida a uma leitura dinâmica, skimming. (Naturalmente, pode ser debatido o que uma ‘melhoria' significa em alguns casos, mas enquanto tarefa a melhoria quase sempre promove uma eficiência nessas passagens  e maior nitidez dos objetos imaginários resultantes.

Com essas descrições posso já ter dado as razões pelas quais as apresentações de pesquisa são artisticamente importantes, e por que elas deveriam ser vistas fora dos muito estreitos limites das transformações acadêmicas: a pesquisa oferece um modo no qual a articulação cessa de comunicar — em termos de transmissão de informação do conhecimento — e a realidade pode ser estabelecida de forma mais inclusiva. Este é o ponto de ‘evidência’ que é estabelecido de forma transpessoal, por exemplo, na pesquisa do Forensic Architecture, mas também no testemunho de natureza mais pessoal no trabalho de Anna Boghiguian ou no de Walid Raad (ambos referenciados por Bishop). Para que a evidência se estabeleça — e, a verdade seja dita, para subirmos essa ladeira escorregadia — o público tem de se tornar parte ativa (‘usuários,’ como Bishop se refere a certa altura) agregando seus conhecimentos e experiências ao que está à mão. Mark Leckey, citado por Bishop, tem, portanto, razão: ‘a pesquisa tem de atravessar um corpo’, mas na pesquisa, contrariando a conclusão de Bishop, não necessariamente é o corpo do artista; qualquer corpo servirá.

Michael Schwab
editor chefe

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